
Na cidade brasileira de Indaiatuba, um esforço está em andamento para eliminar essas pragas antes que elas tenham a chance de espalhar doenças. A arma: mais Aedes aegypti mosquitos – mas aqueles geneticamente modificados para matar sua própria espécie. Fabricados pela empresa britânica de biotecnologia Oxitec, os mosquitos parecem estar funcionando.
Os mosquitos modificados carregam um gene sintético autolimitante que impede a sobrevivência da prole feminina. Isso é importante, porque apenas as fêmeas mordem e transmitem doenças. Em um novo estudo, os cientistas da empresa mostraram que seus insetos modificados foram capazes de reduzir a população local de Aedes aegypti em até 96% em 11 meses nos bairros onde foram soltos.
“Esta é uma área com altos níveis de Aedes aegypti, e eles periodicamente têm surtos de dengue”, diz Nathan Rose, chefe dos programas de malária da Oxitec. De fato, neste verão, o Ministério da Saúde do Brasil informou que a dengue continuava a se espalhar em todas as cinco regiões do país. Entre 1º de janeiro e 31 de maio, o Brasil teve mais de 1,1 milhão de casos – um aumento de 198% em relação ao mesmo período de 2021. Nesses cinco meses, a doença, que causa febre alta, erupções cutâneas e dores musculares e articulares, matou 504 pessoas.
Para o estudo, realizado em 2018 e 2019, a empresa escolheu quatro bairros densamente povoados e com altos índices de Aedes aegypti. Em dois, os cientistas liberaram uma “dose” de 100 mosquitos machos por morador por semana. Nos outros, eles aumentaram para 500.
Os machos modificados acasalam com as fêmeas selvagens, mas o gene autolimitante impede a sobrevivência da progênie feminina. Este gene, que é projetado em laboratório, mas baseado em elementos encontrados em E. coli e o vírus herpes simplex, faz com que as células da prole feminina produzam grande quantidade de uma proteína chamada tTAV. Isso interfere na capacidade de suas células de produzir outras proteínas essenciais necessárias para o desenvolvimento. Como resultado, as fêmeas morrem antes de amadurecer e começar a morder. A prole masculina sobrevive, carregando uma cópia do gene autolimitante que eles podem transmitir.
Para determinar a eficácia desses mosquitos machos autolimitados, os cientistas precisam avaliar a população local de mosquitos antes e depois do experimento. Eles atraem, capturam e registram o número de mosquitos adultos em uma área ou colocam armadilhas cheias de água e, em seguida, contam os ovos que as fêmeas depositam nelas. Em seguida, eles extrapolam para obter uma estimativa populacional. (A equipe da Oxitec usou o método do ovo.)
Este estudo constatou que durante o pico da temporada de mosquitos, que vai de novembro a abril no Brasil, as populações de mosquitos tratados foram suprimidas em média 88% e, em alguns casos, até 96%, em comparação com aqueles em um bairro não tratado que atuou como um controle.
Fotografia: Alexandre Carvalho/Oxitec
Curiosamente, a dose dos mosquitos não pareceu fazer diferença na eficácia do método. “Existe um número limitado de mosquitos fêmeas no meio ambiente, e o importante é que você maximize a chance de encontrar um desses mosquitos machos ‘amigáveis’ soltos, como os chamamos”, diz Rose. “Achamos que, desde que você tenha mais desses mosquitos machos amigáveis no ambiente do que os machos selvagens, as chances são muito mais prováveis de que a fêmea encontre um dos mosquitos machos da Oxitec”. Aliás, Rose acha que será possível liberar até mesmo menos mosquitos para um efeito semelhante.
Como outros países, o Brasil realiza pulverizações de inseticidas em larga escala para manter os mosquitos problemáticos sob controle. Aedes aegypti já foi erradicado em grande parte da América do Sul após o uso generalizado da toxina DDT na década de 1950. Mas uma vez que os efeitos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente do produto químico vieram à tona, a pulverização foi interrompida e o mosquito logo se recuperou. Hoje, os piretróides são comumente usados para controle de mosquitos, mas os mosquitos estão cada vez mais adquirindo resistência a eles.
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