
Zhou Bo, coronel aposentado do Exército Popular de Libertação da China e pesquisador do Centro de Segurança e Estratégia Internacional da Universidade de Tsinghua, disse isso em entrevista ao Financial Times.
Ele observou que o presidente russo não pode perder a guerra contra a Ucrânia. Ao mesmo tempo, é claro que é improvável que a Rússia vença. Zhou Bo também observou que, no contexto da guerra, a mídia ocidental às vezes menciona a “amizade sem limites” que Vladimir Putin e Xi Jinping proclamaram pouco antes do início da invasão russa da Ucrânia. Segundo os militares chineses, o termo é “mal compreendido”.
“Quando as pessoas falam sobre amizade, é claro que querem que essa amizade dure. Mas podemos dizer que, apesar da amizade, essas relações são limitadas? Não podemos dizer que nossa amizade tem limites. Este é um certo gesto de boa vontade. Mas nas declarações, quando mencionamos esse termo, também dizemos que não se trata de uma aliança militar.”, explicou Zhou Bo.
No entanto, comentando sobre a atitude da China em relação à invasão russa da Ucrânia, ele apontou que esses eventos prejudicaram muito os interesses chineses, especialmente na Europa.
“Na Europa, a guerra influenciou a Iniciativa do Cinturão e Rota da China. Isso piorou as relações da China com muitas capitais europeias, que estão convencidas de que a China deve escolher um lado, ou melhor, não ficar do lado da Rússia nessa questão. Então é ruim para a China”, explicaram os militares chineses.
Segundo ele, no contexto da guerra da Rússia contra a Ucrânia, Pequim estava “espremida entre dois amigos”. Portanto, ele não pretende apoiar nenhum dos lados. E, de acordo com o coronel Zhou Bo, Kyiv e Moscou entendem isso.
“Mas isso não significa que a China ficará parada em silêncio e observará como as coisas acontecem. Claro que não. A China não pode permitir tal comportamento. A China é um grande estado, o que significa que tem grandes obrigações. E qual é a maior responsabilidade da China nesta guerra? Isto não é para adicionar combustível ao fogo“, – ele disse.
Zhou também admitiu que Pequim está usando sua influência com Moscou para impedi-lo de usar armas nucleares contra a Ucrânia.
“O mundo teme que Putin use armas nucleares. A voz da China é importante. E sua amizade com a Rússia também será de particular importância neste assunto. Ele pode muito bem já ter desempenhado um grande papel em impedir que esse pesadelo acontecesse.”, admitiu o especialista chinês.
“Esta é uma situação difícil para a China. Mas a China é a segunda maior economia do mundo, membro do Conselho de Segurança da ONU. Nesses assuntos, a China quer que sua voz seja ouvida. A China deve mostrar à comunidade internacional o que é certo e o que é proibido e nunca deve ser implementado“, ele adicionou.
O coronel Zhou Bo também enfatizou que a guerra russa contra a Ucrânia é principalmente um problema de soberania e integridade territorial. Porque é óbvio que estamos falando da invasão de um país a outro. Mas, ao mesmo tempo, o especialista chinês acredita que “todos se esquecem dos motivos dessa invasão”. E, em sua opinião, esse motivo é a expansão da OTAN para o leste, à qual todos os líderes do Kremlin se opuseram: de Mikhail Gorbachev a Vladimir Putin. A última delas difere por transformar o descontentamento verbal em ação militar. O coronel Zhou Bo também está convencido de que a existência da OTAN hoje não tem justificativa moral.
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