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Enquanto a Ucrânia se preparava para uma contra-ofensiva coletando armas ocidentais e enviando suas tropas para os países da OTAN para treinamento, a Rússia passou pelo menos sete meses se preparando para esta fase potencialmente decisiva da guerra. Estava estocando reservas, artilharia e apoio aéreo, munição e combustível e comprando mais drones.
As tropas russas no sudeste da Ucrânia também cavaram linhas de trincheiras e construíram fortificações ao longo de toda a linha de frente de 1.000 quilômetros, de Zaporozhye à região de Belgorod.
Especialistas militares disseram ao Washington Post que a enorme rede de instalações de defesa tem pontos fracos, mas já está retardando as operações ofensivas e criando problemas para o exército ucraniano, forçando-o a tentar romper caminhos estreitos. Isso permite que a Rússia se reagrupe e mire com mais precisão.
“Eles tiveram meses para desenvolver um plano de defesa, cavaram e usaram a área, ficaram seis meses sentados, armando armadilhas e minas. Seu senso de confiança está diretamente relacionado ao entendimento de suas linhas defensivas.”disse Dara Massikot, especialista em questões militares russas da Rand Corp.
Mais de uma semana após o início da contra-ofensiva ucraniana, há sinais de que é improvável que o exército ucraniano alcance os sucessos rápidos que obteve no outono passado nas regiões nordeste de Kharkiv e sul de Kherson. Kiev afirmou avançar e liberar pouco mais de 100 quilômetros quadrados de território. No entanto, a Rússia ocupa mais de 800 vezes o território – aproximadamente 85 mil quilômetros quadrados. Cerca de metade desse território foi capturado antes da invasão em fevereiro de 2022, incluindo a Crimeia e partes das regiões de Donetsk e Lugansk.
Alguns analistas e até alguns militares ucranianos acreditam que Kiev ainda não lançou uma contra-ofensiva completa e está retendo a maior parte de suas brigadas de ataque.
“Mesmo que isso seja verdade, outros especialistas dizem que os reveses militares da Rússia no ano passado criaram uma imagem errônea de sua fraqueza. As operações ofensivas são muito mais difíceis e os exércitos que atacam sofrem muito mais perdas do que o lado defensor.”, escreve o Washington Post, enfatizando que agora é a Ucrânia que está tentando atacar.
“Os russos estão lutando em posições bem preparadas e acumularam uma quantidade suficiente de munição de artilharia, além de terem mais drones, e nesse aspecto no momento não são piores que as Forças Armadas da Ucrânia”, disse. – disse o analista militar russo Yan Matveev.
A Rússia construiu tantas fortificações que nem sequer tem tropas suficientes para colocá-las ao longo de todas as suas linhas defensivas, dizem os analistas. Labirintos de trincheiras e barreiras são especialmente abundantes na região de Zaporozhye, que se tornou um eixo chave para a contra-ofensiva ucraniana. Um mar de minas terrestres também está espalhado pelo sudeste da Ucrânia.
“Existem muitos campos minados na frente das posições e a alguns quilômetros de distância, nas estradas, nos campos, e isso complica muito a situação. Uma parte significativa do equipamento ucraniano de invasão já foi destruída, então tentar romper todas essas minas é um verdadeiro desafio. É a primeira linha de defesadisse Massicote.
A Rússia e a Ucrânia estão enfrentando o esgotamento da munição de artilharia. A Rússia armazenou projéteis, o que provavelmente causou um conflito entre militares e o líder dos mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, que acusou o Ministério da Defesa russo de não receber a munição necessária para seus combatentes.
As tropas russas também estão fazendo uso mais ativo da aviação. Dezenas de vídeos feitos de helicópteros chegaram à rede de blogueiros pró-Rússia desde o início da contra-ofensiva.
Um vídeo reivindicado pelo Ministério da Defesa da Rússia como um ataque bem-sucedido a um tanque Leopard acabou sendo, de acordo com vários blogueiros militares pró-Rússia, um vídeo de um harvester destruído. Mas outros vídeos de geolocalização mostram ataques bem-sucedidos contra veículos ucranianos.
Ataques de curto alcance mais determinados foram uma grande mudança nas táticas aéreas em relação aos meses anteriores, quando os helicópteros disparavam principalmente de longe, evitando as defesas aéreas ucranianas nas linhas de frente, de acordo com o repórter de guerra russo Pavel Aksyonov.
O apoio aéreo é um ponto fraco para a Ucrânia, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, inicialmente pediu que caças F-16 fossem fornecidos ao seu país. No mês passado, o presidente Biden permitiu que os Aliados fornecessem aeronaves, mas levará meses para treinar as tripulações ucranianas para operá-las.
“Enquanto a Rússia tem uma vantagem numérica em força aérea e artilharia, Moscou carece de mão de obra, armamento, comandantes e uma estrutura de comando estável e eficaz.”– disse o especialista militar da Fundação Jamestown, Pavel Luzin.
Na semana passada, falando com comissários militares russos, Vladimir Putin corajosamente afirmou que as perdas em combate da Ucrânia foram “dez vezes maiores” do que as da Rússia, sem fornecer nenhuma evidência. No entanto, as tropas russas parecem ter um ponto fraco.
“As unidades que estão operando agora, não quero chamá-las de saudáveis, eu diria que estão em boa forma. Os russos os encheram de pessoas mobilizadas com diferentes formaçõesdisse Massicote.
Nos últimos meses, Moscou solidificou sua estrutura de comando e disciplina, que parecia um caos durante grande parte do ano passado. Desde o outono, Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior russo, dirigiu o esforço militar geral e as operações ofensivas sem muito sucesso. Mas seus subordinados, como o general Sergei Surovikin e o coronel-general Mikhail Teplinskiy, parecem ter corrigido algumas das deficiências iniciais e conseguido elevar o moral de algumas forças-chave, como as tropas aerotransportadas.
“Algumas divisões em Zaporozhye são realmente concentradas. Não vejo pânico nas posições russasdisse Massicote.
Pela própria admissão de Putin, outro problema para a Rússia tem sido a falta de armas e equipamentos, especialmente armas estrategicamente importantes, como mísseis de longo alcance, drones Orlan e tanques. Moscou comprou drones do Irã e vários componentes da China, mas essas entregas não podem corresponder à ajuda militar que a Ucrânia recebeu dos países ocidentais.
“Precisamos muito. Para os principais tipos de armas, nossa produção aumentou 2,7 vezes no ano. E para as posições mais populares – dezenas de vezes!“, vangloriou-se Putin.
Luzin questionou esse suposto aumento, afirmando que, com base nas estatísticas do governo russo, “é difícil ver como a produção russa de armas poderia ter aumentado ‘muitas vezes’ nessas indústrias no ano passado”.
Massicot observou que os russos estão preocupados com a capacidade da Ucrânia de lutar à noite, graças à melhor ótica de imagem térmica, que falta aos russos. Isso levou familiares de alguns soldados russos a buscar doações para sistemas de visão noturna. Analistas entrevistados pelo The Washington Post dizem que é muito cedo para fazer previsões sobre o resultado da contra-ofensiva, já que o exército ucraniano ainda enfrenta seu maior teste: romper as linhas russas e resistir em combates de infantaria em larga escala.
“Existe uma teoria de que, se as tropas ucranianas se chocarem com os soldados russos, isso levará a outro colapso como o de Kharkov. A Rússia quer evitar isso. Portanto, seu objetivo é manter os ucranianos o mais longe possível com a ajuda de minas e ataques de artilharia.”, explicou o especialista da RAND.
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