Sim, embora não se reúnam para fazê-lo numa sexta-feira depois do expediente. Veja só: frutas e néctares são parte significativa da dieta de muitos animais. Acontece que esses alimentos também são uma fonte de álcool em potencial: o etanol é um produto, junto ao dióxido de carbono, da fermentação natural (ou seja, o de leveduras “comendo” açúcares e liberando esses compostos como resultado da digestão).
O que sai da fermentação depende de alguns fatores – a quantidade de oxigênio envolvida, a acidez da fruta em questão e o tipo de açúcar presente –, mas pode levar a concentrações surpreendentes de álcool, de até 8,1% em frutas (equivalente à graduação alcoólica das cervejas IPA mais fortes) e de 3,1% em néctares.
Isso significa que, sim, animais comedores de frutas e néctar consomem álcool, volta e meia. Tanto que alguns deles desenvolveram a capacidade de quebrar o etanol rapidamente em seu organismo para evitar a embriaguez.
Pesquisadores do Canadá verificaram isso em um estudo de 2020. Eles investigaram a presença, em 85 mamíferos, do gene ADH7, cujo papel é codificar uma enzima chamada álcool desidrogenase, que ajuda justamente a processar o etanol no organismo. Sequências do gene apareceram em 79 dos mamíferos pesquisados – principalmente naqueles que consomem (adivinhe) frutas e néctar.
São adaptações como essa que tornam alguns animais supertolerantes ao álcool. Um exemplo é o musaranho arborícola Ptilocercus lowii, um mamífero da Malásia que pesa apenas 50 gramas e se alimenta do néctar fermentado das flores de palmeiras da espécie Eugeissona tristis. O néctar atinge aquela concentração de 3,8% de etanol, mas os musaranhos não apresentam sinais de intoxicação, como mostrou um estudo de 2008.
Na época, o coautor e microbiologista Marc-André Lachance explicou por que isso é surpreendente: “Existem outros animais que bebem álcool, mas não de forma contínua. Morcegos e pássaros o fazem apenas no momento em que as plantas estão produzindo frutas. Os musaranhos fazem isso o tempo todo, e durante todo o ano.”
Mas outros animais vão além de tolerar o etanol. Eles parecem gostar mesmo da coisa. Os macacos da espécie Cercopithecus aethiops são um exemplo. Experimentos mostraram que um em cada cinco desses animais preferia um coquetel de álcool misturado com água e açúcar em vez de só água com açúcar. Os indivíduos mais jovens eram mais propensos a beber do que os mais velhos – que precisam estar alertas e atentos à dinâmica social do grupo. Alguém tem de ser o motorista da vez.
Fontes: Genetic evidence of widespread variation in ethanol metabolism among mammals: revisiting the ‘myth’ of natural intoxication; Chronic intake of fermented floral nectar by wild treeshrews; Voluntary alcohol consumption in vervet monkeys: Individual, sex, and age differences.
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